Por:
José Brilhante
Foto:
Renan Mota
O grande craque do passado, genuinamente
parintinense, estava lá, esperando ao redor das glórias, materializado em troféus
e fotos que conquistou e registrou durante a vida esportiva. Outra lembrança,
como o pôster do Botafogo do Rio de Janeiro, time que simpatiza, também enfeita seu mural.
Não começou a jogar futebol em Parintins. Por
incrível que pareça, em 1949 viajou com sua tia Santina para Roraima. Na época tinha apenas 9 anos de idade, quando
começou a demostrar seu talento no campinho da escola onde estudava.
Com
o passar dos anos, precisamente em 1954, a aptidão para o futebol foi ficando
atrativo para quem o observava. Com a ajuda de dois jogadores paraenses, Monte
Reino e Vanderlei, acabou entrando para o Baré, uma equipe cujo o proprietário
era o governador de Roraima. O time na época disputava o campeonato roraimense.
Mas, depois de alguns jogos acabou decidindo voltar para sua cidade natal.
VOLTA
A PARINTINS
Houve um desconforto com o marido de sua tia,
onde morava, ainda em Roraima. Devido a isso, convidou a sua irmã, Raimunda
Gama, que também residia com ele, para arrumar as coisas e partir para
Parintins.
No mesmo ano (1954) que entrou para o Baré, retornou
a terra natal. A primeira cena que viu, foi sua mãe Gertrudes Mendonça da Gama, escolhendo gravetos e iniciando fogo no fogão a
lenha para o preparo do café, uma imagem que idealizou antes de chegar, devido
a saudade. Após isso, encontrou com o pai João Medeiros da Gama, voltando da
pescaria. “A vida em Parintins era assim,
no fogo a lenha e papai pescando”, fala Nilo com sorriso no rosto.
Nesse
tempo, Nilo, ainda jogou no estádio com arquibancadas de madeira. A partir de 1956, devido a necessidade do grande público, uma
estrutura de alvenaria foi idealizado pelo engenheiro Tupi Cantanhede. Em
homenagem ao palco dos grandes duelos entre Amazonas Esporte Clube (Cobra
Coral) e Sul América (Sulamba), o estádio recebeu o nome do engenheiro.
CLUBES
POR ONDE PASSOU, MERCADO DA BOLA E TÍTULOS CONQUISTADOS
Logo que chegou, não demorou muito para se
atualizar sobre o futebol da ilha. O irmão o convidou para ir em um campo
chamado Bangu, que era ao lado do atual curral do Caprichoso. Lá o sistema era
do escolhe.
Em um desses jogos, seu Mozart, jogador do
Sul América, estava observando o treino e o convidou para jogar no seu time. “O
meu primeiro treinador foi o pai do Manoel Maria, seu Davi, jogador famoso da
época” relembra Nilo.
O “mercado da bola” em Parintins era agitado, principalmente
pelos empresários e detentores de carreiras respeitáveis.
Já conhecido pela sua habilidade na lateral
direita, Nilo Gama, fala com orgulho das propostas e contrapropostas que
recebia dos maiores clubes da cidade: “O doutor Rumoaldo do Amazonas Esporte
Clube, ‘comprou’ os melhores jogadores da época, cada um recebia 100 mil
cruzeiros para assinar”. “Do Estrela do Norte, levou os dois irmãos, Nonoca e o
Flávio. Já do Nacional contratou o Sérgio. E do Sul América, levou eu e o Boda”.
Após saber da contratação de Nilo pelo maior
rival, o empresário Preto Buretama, presidente do Sul América (Sulamba), fez
uma contraproposta. Mas, o Amazonas Esporte Clube (Cobra Coral) sabendo do
ocorrido, ofereceu uma bicicleta, um rádio, cinco calças e camisas, uma bateria
e mais 100 mil cruzeiros para cobrir o cheque do Buretama. Jogou os anos de 1968,
1969 e 1970 pelo Cobra Coral, até voltar ao Sulamba, onde ganhou oito títulos.
Em suas idas e vindas ao Amazonas Esporte
Clube, conquistou cinco títulos, quatro como jogador e um como técnico. Sendo
campeão invicto em um dos campeonatos como comandante. Também teve uma breve
passagem pelo Nacional, sem conquistas de títulos. Com
o Estrela do Norte ganhou somente um, já em final de carreira.
JOGO
COM GARRINCHA
Foto:
arquivo pessoal de Geraldo Alípio Elenco
do Sul América de 1973
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Garrincha estava viajando o Brasil, fazendo
amistosos com times locais. Já não tinha mais a velocidade e astúcia no drible para
chegar ao gol, mas era Garrincha, o “anjo” das pernas tortas que encantou o
planeta nas copas da Suécia (1958) e Chile (1962).
E nas suas andanças com seu empresário para
jogar futebol, chegou a Manaus e aproveitou para vir a Parintins. A cidade
ficou inquieta com a vinda do ainda mítico bicampeão mundial e ídolo do
Botafogo. Nessa época já não jogava mais no clube.
Era uma tarde de sábado, 02 de junho de 1973,
quando o craque das pernas tortas entrou no estádio Tupi Cantanhede para disputar
um amistoso contra os maiores rivais do futebol parintinense, Sul América (Sulamba)
e Amazonas Esporte Clube (Cobra Coral).
Jogou o primeiro tempo pelo Cobra Coral e o
segundo no Sulamba. Nilo Gama, acabou participando do jogo pelo fato de ser
jogador do Sul América, e conta um lance de bola que participou com Garrincha: “Jorge
Canal deu a bola para Garrincha que tocou de calcanhar pra mim. Depois disso, joguei
por cima do zagueiro para concluir lá na frente”. Após a jogada, Garrincha
percebeu a semelhança dos toques que fazia sempre nos gramados e se aproximou para
perguntar:
- Baixinho, onde você aprendeu essa jogada?
Perguntou Garrincha
- Meu treinador foi no Rio de Janeiro e viu a
tua jogada com Djama Santos e, ensinou para mim - respondeu Nilo
- Olha, teve só um lateral que fazia essa
jogada que é o Djalma - respondeu Garrincha encerrando a conversa.
O jogo terminou com o placar de 1 a 0 para o Cobra Coral,
com a ajuda e passe de Garrincha.
APOSENTADORIA
Nilo pendurou as chuteiras em 1975 devido uma
contusão durante um jogo contra um time de Oriximiná chamado Trombetas. O Sul América estava ganhando de um a zero. A
contusão ocorreu em uma entrada normal de jogo e, o lateral direito acabou
levando a pior. Ainda conseguiu jogar mais dois anos, mas, a contusão forçou a
aposentadoria.
Recomeçou como técnico no Sul América em
1990. No mesmo ano, participou da comissão técnica da Seleção Parintinense, que
enfrentou o Clube de Regatas Flamengo em um amistoso realizado em Parintins.
Ainda vai aos campos relembrar seu tempo de
glória. E depois do almoço fica inquieto para ver onde estão jogando bola.
“Nessa hora minha esposa fala: ‘tu já vai né’? E ai eu vou olhar os treinos”.