quinta-feira, 7 de março de 2019

Nilo Gama: o lateral direito que jogou com Garrincha

Apesar de ser parintinense sua trilha no futebol começou a ser desenhada em outro estado. Mas, o sucesso foi conquistado na ilha tupinambarana  

  Por: José Brilhante

     Foto: Renan Mota      


O grande craque do passado, genuinamente parintinense, estava lá, esperando ao redor das glórias, materializado em troféus e fotos que conquistou e registrou durante a vida esportiva. Outra lembrança, como o pôster do Botafogo do Rio de Janeiro, time que simpatiza, também enfeita seu mural. 
Não começou a jogar futebol em Parintins. Por incrível que pareça, em 1949 viajou com sua tia Santina para Roraima. Na época tinha apenas 9 anos de idade, quando começou a demostrar seu talento no campinho da escola onde estudava.
Com o passar dos anos, precisamente em 1954, a aptidão para o futebol foi ficando atrativo para quem o observava. Com a ajuda de dois jogadores paraenses, Monte Reino e Vanderlei, acabou entrando para o Baré, uma equipe cujo o proprietário era o governador de Roraima. O time na época disputava o campeonato roraimense. Mas, depois de alguns jogos acabou decidindo voltar para sua cidade natal.

VOLTA A PARINTINS

Houve um desconforto com o marido de sua tia, onde morava, ainda em Roraima. Devido a isso, convidou a sua irmã, Raimunda Gama, que também residia com ele, para arrumar as coisas e partir para Parintins. 
No mesmo ano (1954) que entrou para o Baré, retornou a terra natal. A primeira cena que viu, foi sua mãe Gertrudes Mendonça da Gama, escolhendo gravetos e iniciando fogo no fogão a lenha para o preparo do café, uma imagem que idealizou antes de chegar, devido a saudade. Após isso, encontrou com o pai  João Medeiros da Gama, voltando da pescaria.  “A vida em Parintins era assim, no fogo a lenha e papai pescando”, fala Nilo com sorriso no rosto.
Nesse tempo, Nilo, ainda jogou no estádio com arquibancadas de madeira. A partir de 1956, devido a necessidade do grande público, uma estrutura de alvenaria foi idealizado pelo engenheiro Tupi Cantanhede. Em homenagem ao palco dos grandes duelos entre Amazonas Esporte Clube (Cobra Coral) e Sul América (Sulamba), o estádio recebeu o nome do engenheiro.  

CLUBES POR ONDE PASSOU, MERCADO DA BOLA E TÍTULOS CONQUISTADOS  


Logo que chegou, não demorou muito para se atualizar sobre o futebol da ilha. O irmão o convidou para ir em um campo chamado Bangu, que era ao lado do atual curral do Caprichoso. Lá o sistema era do escolhe.
Em um desses jogos, seu Mozart, jogador do Sul América, estava observando o treino e o convidou para jogar no seu time. “O meu primeiro treinador foi o pai do Manoel Maria, seu Davi, jogador famoso da época” relembra Nilo.
O “mercado da bola” em Parintins era agitado, principalmente pelos empresários e detentores de carreiras respeitáveis.
Já conhecido pela sua habilidade na lateral direita, Nilo Gama, fala com orgulho das propostas e contrapropostas que recebia dos maiores clubes da cidade: “O doutor Rumoaldo do Amazonas Esporte Clube, ‘comprou’ os melhores jogadores da época, cada um recebia 100 mil cruzeiros para assinar”. “Do Estrela do Norte, levou os dois irmãos, Nonoca e o Flávio. Já do Nacional contratou o Sérgio. E do Sul América, levou eu e o Boda”.
Após saber da contratação de Nilo pelo maior rival, o empresário Preto Buretama, presidente do Sul América (Sulamba), fez uma contraproposta. Mas, o Amazonas Esporte Clube (Cobra Coral) sabendo do ocorrido, ofereceu uma bicicleta, um rádio, cinco calças e camisas, uma bateria e mais 100 mil cruzeiros para cobrir o cheque do Buretama. Jogou os anos de 1968, 1969 e 1970 pelo Cobra Coral, até voltar ao Sulamba, onde ganhou oito títulos.  
Em suas idas e vindas ao Amazonas Esporte Clube, conquistou cinco títulos, quatro como jogador e um como técnico. Sendo campeão invicto em um dos campeonatos como comandante. Também teve uma breve passagem pelo Nacional, sem conquistas de títulos. Com o Estrela do Norte ganhou somente um, já em final de carreira. 

JOGO COM GARRINCHA

  Foto: arquivo pessoal de Geraldo Alípio                                                              Elenco do Sul América de 1973

Garrincha estava viajando o Brasil, fazendo amistosos com times locais. Já não tinha mais a velocidade e astúcia no drible para chegar ao gol, mas era Garrincha, o “anjo” das pernas tortas que encantou o planeta nas copas da Suécia (1958) e Chile (1962).
E nas suas andanças com seu empresário para jogar futebol, chegou a Manaus e aproveitou para vir a Parintins. A cidade ficou inquieta com a vinda do ainda mítico bicampeão mundial e ídolo do Botafogo. Nessa época já não jogava mais no clube.
Era uma tarde de sábado, 02 de junho de 1973, quando o craque das pernas tortas entrou no estádio Tupi Cantanhede para disputar um amistoso contra os maiores rivais do futebol parintinense, Sul América (Sulamba) e Amazonas Esporte Clube (Cobra Coral).
Jogou o primeiro tempo pelo Cobra Coral e o segundo no Sulamba. Nilo Gama, acabou participando do jogo pelo fato de ser jogador do Sul América, e conta um lance de bola que participou com Garrincha: “Jorge Canal deu a bola para Garrincha que tocou de calcanhar pra mim. Depois disso, joguei por cima do zagueiro para concluir lá na frente”. Após a jogada, Garrincha percebeu a semelhança dos toques que fazia sempre nos gramados e se aproximou para perguntar:

- Baixinho, onde você aprendeu essa jogada? Perguntou Garrincha
- Meu treinador foi no Rio de Janeiro e viu a tua jogada com Djama Santos e, ensinou para mim - respondeu Nilo
- Olha, teve só um lateral que fazia essa jogada que é o Djalma - respondeu Garrincha encerrando a conversa.
O jogo terminou com o placar de 1 a 0 para o Cobra Coral, com a ajuda e passe de Garrincha.  

APOSENTADORIA

Nilo pendurou as chuteiras em 1975 devido uma contusão durante um jogo contra um time de Oriximiná chamado Trombetas. O Sul América estava ganhando de um a zero. A contusão ocorreu em uma entrada normal de jogo e, o lateral direito acabou levando a pior. Ainda conseguiu jogar mais dois anos, mas, a contusão forçou a aposentadoria.
Recomeçou como técnico no Sul América em 1990. No mesmo ano, participou da comissão técnica da Seleção Parintinense, que enfrentou o Clube de Regatas Flamengo em um amistoso realizado em Parintins.
Ainda vai aos campos relembrar seu tempo de glória. E depois do almoço fica inquieto para ver onde estão jogando bola. “Nessa hora minha esposa fala: ‘tu já vai né’? E ai eu vou olhar os treinos”. 






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