segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Parintinense Delmo: “Minha história no futebol”


Para ir a Manaus, onde fez sucesso, levou o amigo também jogador Luiz Carlos, o Tubarão, que lhe defendia com “unhas” e “dentes”, em momentos difíceis. Para demostrar gratidão, exigia para os dirigentes do Nacional, seu primeiro clube na capital, que seu colega ganhasse o mesmo ordenado que ele. Inclusive a sua contratação só se deu com o Nacional, por uma condição: o Tubarão também teria que assinar contrato.


POR: JOSÉ BRILHANTE
Time de 1999, que conseguiu o acesso à série B do Campeonato Brasileiro
Fotos: divulgação


Delmo Arcângelo agora com 46 anos, começou a jogar em sua terra natal, Parintins, em meados da década de oitenta, na época do CRCC da Clarindo Chaves e Cordovil, ruas localizadas no centro da cidade de Parintins. Jogou ainda com nomes importantes da época como o goleiro Marco Aurélio, e Coimbra, lateral direito.
Em meados de 1987, faz um teste no Nacional de Parintins, clube de primeira divisão local. Mas, seu pai Ney, ex-jogador do Amazonas Futebol Clube (Cobra Coral) e torcedor fanático do mesmo time, interveio e o levou para seu time do coração. Na época o técnico era Parrudo, que colocou um apelido no ainda menino, até então desconhecido do público amazonense: “Ele me apelidou de Cólera, porque eu era muito magro e rápido” fala o maior artilheiro do estado do Amazonas, Delmo.
Fechou o ciclo no Cobra Coral em 1994 quando foram campeões do Campeonato Parintinense, invictos, com um time formado totalmente de graça. No mesmo ano foi para o Nacional de Parintins, clube que poderia ter iniciado à carreira no amador. “Em casa foi maior ‘pau’ quando descobriram. A minha família era toda Amazonas roxo. Mamãe era Amazonas doente e não gostou nada quando ouviu à notícia da rádio local anunciar que jogadores importantes do Cobra Coral estavam se transferindo para o Nacional (ainda de Parintins):

- Dois jogadores importantíssimos saíram do Amazonas e estão indo para nacional –anuncia a Rádio Alvorada com sua mãe ouvindo

- Quem será esses dois? Falou a mãe de Delmo praguejando sem saber que um dos jogadores era seu filho!

Delmo escondido, ouviu e viu a reação de longe. Saiu de “fininho”, voltou somente no fim da tarde e pegou uma “esculhambação”. Naquele tempo a rivalidade em Parintins entre clubes era ferrenha. E quando o jogador pertencia a um time que a família era torcedora, aí a situação piorava.


VOOS” MAIORES
Começou a participar da Seleção Parintinense e posteriormente da Copa dos Rios, uma competição intermunicipal entre todos os municípios do alto e baixo Amazonas.
Em um jogo pela seleção em Manacapuru, um técnico o viu, se interessou, porém as negociações não vingaram. As verdadeiras chances aparecerem quando conheceu Mário Gaúcho, um paulista que se encantou pelo seu futebol e o levou-o para fazer testes nos clubes da capital. Mas, não queria ir sozinho e acabou levando seu amigo Luiz Carlos, o Tubarão, também jogador. O primeiro teste foi no Fast. Quando chegaram no clube não se adaptaram, logo no primeiro treino.  
Posteriormente acabaram indo para o Nacional Futebol Clube em 1996 por intermédio de João Enrique, dois anos mais tarde de atuar no clube com mesmo nome em Parintins. “Fomos fazer o primeiro treino com bola. O treinador não gostou de mim e nem do Tubarão”. Ao acabar o coletivo, Delmo chama o treinador e justifica:

- Professor o senhor me colocou no meio de garotos para jogar com o time profissional. Isso não tem cabimento. O senhor quer realmente fazer um teste comigo? Me dê mais uma chance me colocando no time principal.

- Amanhã é sua última oportunidade. É um jogo treino com um time de fora e vou lhe colocar – falou o técnico.

No jogo, dentro da Base Aérea de Manaus, estava toda à diretoria e cúpula do Nacional. O campo era um tapete. Quando viu aquilo, Delmo desabafou em seus pensamentos: “Ou é hoje ou nunca”.
Durante o jogo, já no final do segundo tempo com o Nacional empatando em 1 a 1, o atacante entra para começar a escrever sua história no futebol amazonense e brasileiro. Quando pisou no gramado, em menos de 30 minutos, sua estrela brilha, faz três gols, garantindo à vitória por 5 a 1.
Há noite no mesmo dia, já estava assinando o contrato com o Nacional. Mas nada ainda estava certo. O já quase contratado impôs uma condição: só firmaria com o clube se o amigo Tubarão também assinasse contrato, ganhando o mesmo valor. “O Luiz Carlos Tubarão me defendia com unhas e dentes, um amigo leal, quando queriam rebaixar a gente por nossas origens” desabafa o atacante artilheiro.
Mas, uma situação o entristeceu no ano seguinte: a não renovação do contrato de seu amigo. 

COPA DO BRASIL 1997 (NACIONAL X FLAMENGO DO RIO DE JANEIRO)

Logo no primeiro jogo enfrentou o Flamengo do Rio de Janeiro, com Romário e companhia limitada.
Durante toda a preparação, Delmo vinha sendo titular, mas no dia da partida, na preleção, ficou no banco. Assistindo de “camarote”, foi testemunha de uma goleada do Flamengo sobre seu time.
Já com o placar em 6 a 1 para o Rubro-Negro, e faltando uns 10 minutos para terminar, Delmo começa a falar no banco de reservas para todos ouvirem: “Se eu entrar vou fazer um gol”. Nunca agia dessa forma, sempre foi cauteloso em suas promessas. Mas, àquela oportunidade de jogar não poderia passar.
Em meio a protestos entrou na partida. Foi correria e muita vontade, porque tinha que cumprir o prometido. Em uma disputa de bola com Júnior Baiano, jogador do Flamengo, o atacante nacionalino aplica um drible de corpo no defensor carioca, e a bola sobra, fazendo o gol. 
Assim, um Parintinense corria desesperado de felicidade para seus companheiros comemorando o seu primeiro gol contra um time grande, mesmo com a derrota por 6 a 2. 

RIO NEGRO 1998
Seu passe era livre e acabou indo para Rio Negro. Chegou no clube ganhando luvas (bicho) e com a fartura de gols lá em cima, totalizando mais de 16 na temporada. Nesse ano, jogando pelo Rio Negro, Delmo chegou à decisão do estadual contra o São Raimundo, onde foi decidido no tapetão por causa de uma polêmica. Bugrão, para o Tufão da Colina, marca um gol de mão, deixando o placar em 2 a 1. Porém tudo foi decidido no STJD, no outro dia, com o São Raimundo ficando com o título.

SÃO RAIMUNDO (TUFÃO DA COLINA) 1998

No mesmo ano, após o fim do Barezão, se transferiu para o São Raimundo. Chegou e não podia jogar a próxima competição, Copa Norte, porque já tinha atuado pelo Rio Negro. A rotina era somente treinamento em preparação para série C do Campeonato Brasileiro. Dentre todas as dificuldades, acabou virando umas das estrelas do técnico Aderbal Lana.Todos seus títulos relevantes no profissional foram conquistados jogando pelo Tufão da Colina. Ganhou três vezes o estadual amazonense chamado Barezão (1999, 2004 e 2006), foi tricampeão da Copa Norte (1999, 2000 e 2001) e em mil novecentos e noventa e nove conseguiu o acesso à série B do Campeonato Brasileiro de 2000, onde jogou por 7 temporadas. 


Foto: Arquivo pessoal de Delmo

No clube, o gol mais importante da sua vida foi um de pênalti contra o Vila Nova no estádio da Colina, em 2006, quando perdiam por 3 a 2 e estavam caindo para série C do Campeonato Brasileiro. Já tinha feito um no jogo, mas, evitou a queda do Tufão da Colina, quando Aderbal Lana, técnico da época, pediu para que ele fosse cobrar o pênalti que empataria o jogo e daria esperança para seu clube. No fim, Alberto, companheiro de time amplia o placar e o jogo encerra em 4 a 3, com o São Raimundo vencendo e adiando sua queda.

SÃO PAULO X SÃO RAIMUNDO (COPA DO BRASIL - 2003)
Me lembro que nossa concentração foi em hotel no Distrito Industrial. O São Paulo trouxe Luiz Fabiano, Kaka, Ricardinho, Rogério Ceni, Miranda e outros. Somente craques. Saímos do hotel com os torcedores soltando fogos e festejando muito. Foi um jogo sensacional. Colocamos o São Paulo praticamente uns 15 minutos na roda, com a torcida gritando olé” contou Delmo nostálgico.
Ganharam por 2 a 0, com um dos gols do goleador parintinense no segundo tempo, em um escanteio, subindo na frente de Miranda e fechando fatura para o São Raimundo.

QUEBRA DE RECORDE
Em 2004, Delmo quebra o recorde de gols marcados em uma só edição do estadual, jogando pelo São Raimundo. O antecessor Lívio, atacante do Rio Negro, com 22 gols, perdurava com esse feito há mais de 30 anos. Só que em dois mil e quatro, o atacante artilheiro estava iluminado e supera essa façanha com 24 gols, mesmo ficando de fora por lesão, nos dois últimos jogos do campeonato.
Seis anos mais tarde, em 2010, se aposenta e pendura as chuteiras, para tristeza dos torcedores amazonenses.



  

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