POR:
JOSÉ BRILHANTE
Denner Silva e Júnior Fuziel, folheando
a revista onde estão seus desenhos
Os
dois já nasceram com esse dom inexplicável, de fazer arte, que só existem em Parintins.
Foram como todos os meninos da cidade que descobriram seus talentos, através do
autoconhecimento, a capacidade de aprender sozinho.
Com o passar do tempo, se destacaram e foram sendo
percebidos pelos mais próximos, que o talento de desenhar poderia render bons
frutos no futuro. Mas, Denner Silva e Júnior Fuziel não sabem explicar como
nasceram para um ofício altamente complexo.
Antes de todas as oportunidades que
aproveitaram, os artistas não tinham a arte como meio de vida. Denner ao sair
do ensino médio em 2012, encontrou seu caminho quando começou a frequentar o
CRAS do Paulo Corrêa, onde tinham cursos de vários tipos, inclusive o desenho, e
aprendeu técnicas que não conhecia. “Depois desse curso, entrei pro Liceu de
artes de Parintins e comecei a fazer trabalhos para meus colegas”.
Junior
foi meio diferente, o autoconhecimento foi mais aflorado, até pela influência
do boi bumbá, com sua família gostando muito. Mas, não deixou de adquirir o conhecimento,
quando foi para a “Casa de Acolhida” em 2001, aonde descobriu e despertou ainda
mais o interesse pelo mundo da arte. Contudo,
Júnior, agradecesse ao boi em miniatura Garantido que foi uma grande escola, que
lhe ensinou muito sobre a profissão no boi.
A
ENTRADA NO BOI
Os
artistas repassando suas experiências para alunos de
desenho no Liceu
Apesar de serem autodidatas, estudaram muito
para evoluírem e chegarem ao nível artístico que se encontram. Júnior Fuziel,
28 anos e Denner Silva, três anos mais novo, tiveram a mesma história, quando
entraram para boi Caprichoso.
Em 2016, estudando no Liceu de artes
Parintins, com o professor Erinaldo Batalha, participaram de um concurso de
artes e se destacaram. Foram vencedores e indicados pelo professor para fazer
um teste no boi.
Na ocasião queriam só um desenhista, só que o
destaque se repetiu no teste e, acabaram aprovados. “Não sei te explicar acho
que foi uma benção que nós tivemos, porque é muito difícil passar em um
processo desses. Mesmo com talento, nesse setor, poucos passam”, desabafa
Júnior. Desde então, já totalizam três títulos do festival em 4 anos como
ilustrador do boi.
O
TRABALHO
A importância dos artistas é essencial no
processo de criação do Caprichoso. No galpão são os primeiros a colocar a mão
na massa, no setor de ilustração. “O conselho de arte, passa pra gente os rabiscos
ou somente a ideia e nós materializamos de acordo com que eles pedem,” fala
Denner.
Falando desse jeito, parece uma coisa
simples, porém tudo que vai para arena, como alegorias, adereços e fantasias,
passa pelas mãos dos ilustradores e seus colegas (Kedson Oliveira e Igor Viana)
que desenham minuciosamente cada objeto em escalas e ricos em detalhes.
Até movimentos corporais, tipos de penas,
tamanho de missangas e reações da indumentária, são desenhados, para ficar em
uma proporção que dê para os artistas de alegorias reproduzirem.
“Os mais difíceis de fazer são os rituais. Levam
uns 15 dias. É muito detalhe. Não é só um desenho simples, é tudo na escala,
como se fosse ela pronta”, fala Júnior. “Além de bonito tem que ser técnico,
porque depois vai para a revista promocional que é distribuída para
patrocinadores e sócios” completa Denner.
Para isso, muitos anos de experiência foram
adquiridos, junto com o conhecimento técnico obtido em cursos específicos.
Criação
de técnica Mista e a fase mais difícil do trabalho
É como um chefe de cozinha, eles mantém o segredo
da receita secreta da técnica, desenvolvida pelo grupo de artista que consiste
em lápis de cor e aquarela.
O trabalho é totalmente diferente, justamente
pela Caneta Nanquim, que dar um aspecto de alto profissionalismo na ilustração
do projeto bovino. “É o processo mais difícil que aprendemos. Se errar já era,
não dá pra apagar. Se fizermos devagar, estraga e deixa trêmulo”. Tem que
dominar o manuseio com traços rápidos”, fala Denner.
TRABALHOS
IMPORTANTES
Com os anos de experiência e tendo o boi como
uma grande vitrine, muitas propostas já surgiram, inclusive de desenhos para o carnaval
do Rio de Janeiro e São Paulo, incluindo outros municípios. Como não estão
presos em ilustrações do boi, possuem outras habilidades. Assim, nessa caminhada
já receberam encomendas especiais e importantes: um retrato do governador Wilson
Lima e sua esposa.
“Foi uma corrida contra o tempo, porque as
pessoas que queriam dar o presente para ele, nos contataram às 23hs, para
entregar a obra logo pela manhã, na semana do festival. Acredito que foi um
presente especial”, diz Júnior quando se referiu ao desenho que fizeram, do
governador e esposa, juntos.
Outro
desenho foi feito, um retrato realista, também do governador, em setembro do
ano passado, agora só por Denner, encomendado por uma pessoa próxima a ele que
queria presenteá-lo, já que ele não permite foto oficial em seu gabinete, ou
seja, o retrato realista está na sala do líder estadual.
O
ápice da profissão é quando fazem esses trabalhos importantes ou quando vão
para arena e veem seus desenhos materializados como majestosas alegorias,
adereços e fantasias, que são apresentados nos três dias de festival. “É legal essa parte, porque nós sabemos tudo
que vai acontecer antes de todo mundo. Mas sempre tem expectativas” relata
Júnior. Denner tem quase a mesma sensação: “A materialização do nosso desenho é
sensacional, principalmente quando vejo tudo, e sei que nós ajudamos a
fazer”.
ALEGORIAS
ILUSTRADAS POR JÚNIOR, DENNER E EQUIPE
OBRAS
DE DENNER
OBRAS
DE JÚNIOR FUZIEL