sábado, 30 de maio de 2020

Guruga e suas histórias fantásticas do futebol parintinense


Sempre foi um grande torcedor fanático, dirigente por muitos anos e incentivador do Amazonas Esporte Clube (Cobra-coral), onde colecionou fatos engraçados e atípicos para seu time do coração. 

POR: JOSÉ BRILHANTE
 Fotos: divulgação 


Raimundo Nonato, o Guruga, uma lenda do futebol tupinambarana, aprendeu a gostar do esporte e do Amazonas com sua família, que era toda Cobra-coral, liderada pelo seu pai Raimundo Bentes. Mas, especificamente com seu tio Domingos Bentes, que a paixão pelo Amazonas aflorou. Ele o levava para assistir os jogos.
“Quando era curumim ele me levava para o estádio. Entrava sempre por debaixo do portão. Tinha uma brecha e passava. Foi aí que eu aprendi a gostar do Amazonas” fala Guruga, com ar de saudade.
A paixão pelo time foi tão grande que se tornou diretor do clube. Eram Guruga, Carlos de Paula, Aquino, Iranildo Azedo, Gelson Azedo, Pedrinho Ferreira e Vanderlei Holanda, que compunham a turma da diretoria, sempre com o intuito de ganhar do Atlético Sul América Clube (Sulamba), o eterno rival, até no grito se fosse possível.


HISTÓRIAS IRREVERENTES

Exame Antidoping
Guruga, lembra-se aproximadamente entre 1980 ou 1990, em uma final do Campeonato Parintinense entre Amazonas e Sul América, que inventou o exame, para desestabilizar o adversário. Acabou ouvindo na rádio nacional a situação e quis fazer a presepada. “Ouvi no rádio essa coisa do exame, pra examinar se o cara não tomavam nenhum droga, tudo pra sacanear com o pessoal do Sul América. E eles pegaram corda,” conta Guruga.
A informação acabou se espalhando. O Amazonas traria novidades para a final, o exame antidoping. Foi um rebuliço total na imprensa parintinense, que gostava da disputa extracampo. “O Nelson Brilhante, locutor da época, dava corda. Divulgava pra inflamar o clássico. Aí pronto, isso tirou o sono dos Sulambas” explica o inventor da estripulia.
Para que a invencionice surtisse efeito, Guruga tinha seus recursos. Muitos acreditaram, porém outros diziam: “Isso é conversa do Guruga, mentira dele”.
“Aí me lembro quando chegamos no domingo no estádio.  Mais ou menos ao meio dia, e a ambulância já estava na frente da Rádio Alvorada. Ficou parada lá, só pra meter medo no pessoal, porque não tinha nada de exame" confessa. 
Conclusão: o Amazonas acabou ganhando o jogo por 3 a 1. “Os cabocos do Sulamba ficaram com medo e não jogaram nada. Isso quase que dá uma encrenca, porque peguei uma ambulância do hospital da cidade. Mas a conversa que joguei pra conseguir o carro, foi boa. Falei que os jogadores poderiam se machucar por causa do jogo violento, e precisar da ambulância, mas inventei para o povo que era para o exame antidoping que nem existia” relembra o torcedor fanático, que não media esforços para seu time do coração.

Macumba
A prática era muito utilizada no futebol local, quase sempre em finais do Parintinzão. E Raimundo Nonato, o Guruga, Amazonas doente, realizava seus "trabalhos", mesmo que de mentirinha, para seu rival Sul América (Sulamba) acreditar e ficar preocupado.
O quartel general para fazer as artimanhas contra o rival era a casa de Valdir, parceiro na empreitada, que morava perto do estádio Tupy Cantanhede.
“Nós bolamos uma ideia, e fui lá pro campo do América, atrás  do aeroporto, já na estrada, onde o Sulamba treinava, para levar um despacho pro treino deles. Eles não tinham campo, tinham que ir pro Parananema treinar” fala Guruga, o mentor da ideia.
Aí arquitetaram o “golpe”. Guruga levou uma garrafa com uma vela, só que era tudo inventado. A imprensa adorava as presepadas e dava manchete certa, dizendo que o Amazonas estava fazendo "trabalhos" extracampo.
“Fui colocar atrás do gol. Quando eu vinha de volta, o pessoal do Sul América descobriram que eu estava colocando o despacho no campo de treinamento deles. Para meu azar, no momento que eu voltava, já com o despacho enterrado, acabei cruzando com o elenco todo. Eles meteram o caminhão cheio de jogadores em cima de mim, que estava de moto, era só pra assustar. Aí eu fiquei no meio da estrada sem ação” explica, com um sorriso bem grande no rosto.

Aposta de mil pães contra mil picolés
Segundo Guruga, apostou com Rai Cardoso, fanático pelo Sul América, mil picolés contra mil pães, em um jogo entre os rivais (Amazonas x Sul América). Quem ganhasse doava os picolés ou pães para escolas. “Eu ganhei! Não entregou, porque não houve interesse por parte da escola. Os torcedores discutiam, só faltavam ir na porrada, era fácil a gente ganhar deles” finaliza com sua felicidade de ter vivido e feito muitas loucuras para seu time. 

O FIM DA DEDICAÇÃO
A idade foi chegando, o futebol na cidade foi enfraquecendo, e Guruga começou ver algumas coisas que não concordava no futebol parintinense.


Além de bancar o time, o empresário se viu pagando outras coisas pessoais do jogador. Tudo saía caro.
Começamos a melhorar.  Nós tínhamos uma lanchonete e levávamos vitaminada pros jogadores nos treinos. Tristão era o preparador físico. O Pedrinho Pereira era o cara que mais cooperava. Assim, caboco tomava e repetia. Aí andei ouvindo que eu trazia sobras, e isso foi um dos motivos que me desmotivou" desabafa Guruga. 
Assim foi desgostando. Mas, não foi só essa fato, outras coisas como espertezas de jogadores. Ele conta que foi pagar um conserto de uma geladeira pifada de um jogador. Tudo não passava de um golpe para lhe tirar dinheiro. “Isso fez eu meditar, e de vez enquanto aparecia situações igual a essa”.   
Hoje está na sua melhor idade, com a alcunha gravada em seu portão e vivendo bem, com suas sete décadas de experiências adquiridas.  



sexta-feira, 8 de maio de 2020

Jorge Canal: O meio-campo parintinense que brilhou no Sul América


Na época em que começou a jogar no Campeonato Parintinense, na década de setenta, a rivalidade entre Atlético Sul América (Sulamba) e Amazonas Esporte Clube (Cobra-coral) pulsava ao extremo, a ponto de lotar o Tupy Cantanhede e gerar muita paixão em Parintins.

POR: JOSÉ BRILHANTE
Fotos: arquivo pessoal de Jorge Canal

Jorge nasceu em uma Parintins do passado, que oferecia ao máximo, condições para que se tornasse um jogador de futebol. Existiam muitos campos espalhados por Parintins, inclusive ao redor do aeroporto antigo, localizado onde hoje é o bumbódromo.  
Como sempre gostou do esporte, na sua infância, abusava da brincadeira de bola. Sempre veloz, habilidoso e com uma dose de provocação, para se defender, devido ser franzino, já se destacava nas quadras de futsal e campinhos de futebol.  “Já tinha o CCE no Urubuzal. Nós invadíamos pra jogar futebol de salão. Eu jogava de manhã, de tarde até a noite. E ainda jogava descalço na quadra quente” lembra Jorge.

O COMEÇO

Era juvenil do Sul América (Sulamba), na época os times possuíam categorias de base. Houve um torneio início, e Idário, integrante do Estrela do Norte o convidou para jogar. Jovem e com muita vontade, aceitou.
Jorge Canal, não sabia jogar de chuteira e em sua estreia jogou com uma Kichute. Por ironia do destino, foram campeões do torneio início. “Cara no outro dia era Pedrinho e Preto Buretama, todos atrás do papai, pensando que eu já era do Estrela” rememora Jorge Canal.
Sem perder tempo e risco, o assinaram logo, com medo de perdê-lo para o adversário.

ERA INVOCADO DENTRO DE CAMPO

Como era um meio-campo jovem, muito veloz e habilidoso, causava raiva aos adversários. E naquele tempo, quando não havia toda essa parafernália tecnológica, com algumas regras inexistente, a pancadaria cantava. Como ele tinha as característica do jogador caçado dentro das quatro linhas, era sempre o “felizardo”.
“O finado Dias era zagueiro e batia muito, logo quando eu entrava em campo contra o Amazonas. A primeira bola que eu pegava, ele carregava nas duas. ‘Eu dizia: a tu queres né!’. Quando ele vinha, na segunda eu já dava cotoveladas na cara dele para me defender. Ele era forte. Aí ele se mancava. Mas era só no campo, quando acabava o jogo todo mundo estava amigo” relata o jogador. Mas, as provocações com outros jogadores existiam.

- Ei tuberculoso? -  provocava Gelson, só pra irrita-lo dentro de campo
Como resposta usava o ciúme que o algoz sentia pela esposa
– E tu seu corno, que está jogando bola enquanto tua mulher tá com outro.
Com muita raiva, Gelson corria descontrolado atrás de Jorge. Deixava até de jogar para persegui-lo. 


TÍTULOS EM PARINTINS

Jorge é o sexto homem, agachado da esquerda para direita

O jovem, começou a jogar no Campeonato Parintinense em 1973, pelo Sul América, com 19 anos. Logo foi campeão e bicampeão em seguida (1974). O último título foi em 1976, quando voltou da temporada no futebol profissional manauara.

O fenômeno Jorge, foi um caso à parte, porque para conseguir entrar em um dos grandes e ser titular, era muito difícil, e ainda teve a oportunidade de fazer o jogo histórico, em 1973, quando Garrincha veio em Parintins para fazer um amistoso.
“No primeiro tempo, Garrincha jogou pelo Sul América e não jogou nada. No segundo começou a jogar futebol. Em um escanteio que cobrou, já jogando pelo Amazonas (Cobra-coral), Bereco fez o gol. Não abracei ele, fiquei muito puto por ele não ter jogado nada pelo nosso time” explica Canal depois de 40 anos passados.
O jogo ocorreu em uma tarde de sábado, 02 de junho no Tupy Cantanhede, com Garrincha jogando nos dois times (Amazonas e Sul América), um tempo em cada, terminando em 1 a 0 para o Cobra-Coral. 
Garrincha é o segundo homem agachado da esquerda para direita e Canal o quarto jogador

Na seleção conquistou um título Intermunicipal em 1973 (campeonato entre os municípios do Amazonas), no mesmo ano que começou no Sulamba principal.  Na ocasião, com o título ganho, passaram um perrengue para sair do estádio em Itacoatiara, devido os torcedores da seleção itacoatiarense estarem revoltados. "Saímos nove horas da noite do estádio Floro de Mendonça, porque o prefeito Benedito Azedo chamou a polícia pra fazer fila indiana e nos escoltar para fora. Até jogaram uma pedra na cabeça dele” lembra Jorge Canal da rivalidade entre os municípios dentro de campo. 

Quando chegaram na Fabril Juta, em Parintins, mandaram pegar foguete, cerveja, para comemorar. Parintins inteira estava esperando por eles. Segundo o jogador, ninguém pisou no chão. Foram deixá-los na prefeitura, carregados. 

A VINDA PARA O NACIONAL DE MANAUS E A PROFISSIONALIZAÇÃO

Era 1975, veio disputar o intermunicipal, no parque amazonense, quando seu futebol e, do amigo Allan, despertou interesse nos dirigentes do Nacional de Manaus, um clube até hoje profissional.  Ficou uns 8 meses no time, até que não aguentou a saudade de sua amada, que ficou em Parintins.
Era uma promessa, no campeonato de 76, já com seus 22 anos, no Vivaldo Lima jogou duas partidas, mas, resolveu ir embora. “Aí falei pro diretor da época que eu estava indo. Ele disse: ‘Jorge não vai embora não. Nós vamos te fazer um Zico’. Aí liguei pro papai e fui embora para Parintins” diz.

O AMOR E A PRECOCE APOSENTADORIA


Quando chegou, uma manchete no jornal acrítica dizia: “Ponta de lança, foge do Nacional em busca do amor”.
Nessa volta à terra natal, mesmo sofrendo o revés de voltar a categoria amadora, ainda chegou a jogar os campeonatos de 1976, onde foi campeão, totalizando três títulos do Parintinzão. Atuou por mais dois anos, em 1977 e 1978.
Muito jovem, com 25 anos, decidiu interromper a carreira para casar com sua esposa Peta, em 1979. Assim, o amor falou mais alto que o futebol. 



ACERVO FOTOGRÁFICO  




 Jorge Canal e Allan, na atualidade, companheiros de Sul América 



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