Sempre foi um grande torcedor fanático,
dirigente por muitos anos e incentivador do Amazonas Esporte Clube (Cobra-coral),
onde colecionou fatos engraçados e atípicos para seu time do coração.
POR: JOSÉ BRILHANTE
Fotos: divulgação
Raimundo Nonato, o Guruga, uma lenda do
futebol tupinambarana, aprendeu a gostar do
esporte e do Amazonas com sua família, que era toda Cobra-coral, liderada pelo
seu pai Raimundo Bentes. Mas, especificamente com seu tio Domingos Bentes, que
a paixão pelo Amazonas aflorou. Ele o levava para assistir os jogos.
“Quando era curumim ele me levava para o
estádio. Entrava sempre por debaixo do portão. Tinha uma brecha e passava. Foi
aí que eu aprendi a gostar do Amazonas” fala Guruga, com ar de saudade.
A paixão pelo time foi tão grande que se
tornou diretor do clube. Eram Guruga, Carlos de Paula, Aquino, Iranildo Azedo,
Gelson Azedo, Pedrinho Ferreira e Vanderlei Holanda, que compunham a turma da
diretoria, sempre com o intuito de ganhar do Atlético Sul América Clube (Sulamba), o eterno rival, até no grito se fosse possível.
HISTÓRIAS
IRREVERENTES
Exame
Antidoping
Guruga, lembra-se aproximadamente entre 1980
ou 1990, em uma final do Campeonato Parintinense entre Amazonas e Sul América, que
inventou o exame, para desestabilizar o adversário. Acabou ouvindo na rádio
nacional a situação e quis fazer a presepada. “Ouvi no rádio essa coisa do
exame, pra examinar se o cara não tomavam nenhum droga, tudo pra sacanear com o
pessoal do Sul América. E eles pegaram corda,” conta Guruga.
A informação acabou se espalhando. O Amazonas
traria novidades para a final, o exame antidoping. Foi um rebuliço total na
imprensa parintinense, que gostava da disputa extracampo. “O Nelson Brilhante,
locutor da época, dava corda. Divulgava pra inflamar o clássico. Aí pronto,
isso tirou o sono dos Sulambas” explica o inventor da estripulia.
Para que a invencionice surtisse efeito, Guruga
tinha seus recursos. Muitos acreditaram, porém outros diziam: “Isso é conversa
do Guruga, mentira dele”.
“Aí me lembro quando chegamos no domingo no estádio.
Mais ou menos ao meio dia, e a
ambulância já estava na frente da Rádio Alvorada. Ficou parada lá, só pra meter
medo no pessoal, porque não tinha nada de exame" confessa.
Conclusão: o Amazonas acabou ganhando o jogo por
3 a 1. “Os cabocos do Sulamba ficaram com medo e não jogaram nada. Isso quase
que dá uma encrenca, porque peguei uma ambulância do hospital da cidade. Mas a
conversa que joguei pra conseguir o carro, foi boa. Falei que os jogadores
poderiam se machucar por causa do jogo violento, e precisar da ambulância, mas
inventei para o povo que era para o exame antidoping que nem existia” relembra
o torcedor fanático, que não media esforços para seu time do coração.
Macumba
A prática era muito utilizada no futebol local,
quase sempre em finais do Parintinzão. E Raimundo Nonato, o Guruga, Amazonas
doente, realizava seus "trabalhos", mesmo que de mentirinha, para seu rival Sul América
(Sulamba) acreditar e ficar preocupado.
O quartel general para fazer as artimanhas
contra o rival era a casa de Valdir, parceiro na empreitada, que morava perto
do estádio Tupy Cantanhede.
“Nós bolamos uma ideia, e fui lá pro campo do
América, atrás do aeroporto, já na estrada, onde o Sulamba treinava, para levar
um despacho pro treino deles. Eles não tinham campo, tinham que ir pro Parananema
treinar” fala Guruga, o mentor da ideia.
Aí arquitetaram o “golpe”. Guruga levou uma
garrafa com uma vela, só que era tudo inventado. A imprensa adorava as presepadas
e dava manchete certa, dizendo que o Amazonas estava fazendo "trabalhos" extracampo.
“Fui colocar atrás do gol. Quando eu vinha de
volta, o pessoal do Sul América descobriram que eu estava colocando o despacho
no campo de treinamento deles. Para meu azar, no momento que eu voltava, já com
o despacho enterrado, acabei cruzando com o elenco todo. Eles meteram o caminhão
cheio de jogadores em cima de mim, que estava de moto, era só pra assustar. Aí eu fiquei no meio da estrada sem ação” explica, com um sorriso bem grande no
rosto.
Aposta
de mil pães contra mil picolés
Segundo Guruga, apostou com Rai Cardoso,
fanático pelo Sul América, mil picolés contra mil pães, em um jogo entre os
rivais (Amazonas x Sul América). Quem ganhasse doava os picolés ou pães para
escolas. “Eu ganhei! Não entregou, porque não houve interesse por parte da
escola. Os torcedores discutiam, só faltavam ir na porrada, era fácil a gente
ganhar deles” finaliza com sua felicidade de ter vivido e feito muitas loucuras
para seu time.
O FIM DA DEDICAÇÃO
A idade foi chegando, o futebol na cidade foi
enfraquecendo, e Guruga começou ver algumas coisas que não concordava no
futebol parintinense.
Além de bancar o time, o empresário se viu
pagando outras coisas pessoais do jogador. Tudo saía caro.
“Começamos a melhorar.
Nós tínhamos uma lanchonete e levávamos
vitaminada pros jogadores nos treinos. Tristão era o preparador físico. O
Pedrinho Pereira era o cara que mais cooperava. Assim, caboco tomava e repetia.
Aí andei ouvindo que eu trazia sobras, e isso foi um dos motivos que me
desmotivou" desabafa Guruga.
Assim foi desgostando. Mas, não foi só essa
fato, outras coisas como espertezas de jogadores. Ele conta que foi pagar um
conserto de uma geladeira pifada de um jogador. Tudo não passava de um golpe
para lhe tirar dinheiro. “Isso fez eu meditar, e de vez enquanto aparecia
situações igual a essa”.
Hoje está na sua melhor idade, com a
alcunha gravada em seu portão e vivendo bem, com suas sete décadas de experiências adquiridas.