O futebol e a família o libertou para o
mundo e lhe ocasionou saúde. Conheceu novos amigos, trouxe alegria, fortaleceu
seus ossos e o tirou da ociosidade, fazendo do pequeno menino acanhado, uma
pessoa que transborda otimismo e felicidade.
Por: José Brilhante
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Foto: José Brilhante
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Era 31 de agosto de 2005. Helen, já com três
filhos, em nada imaginava que sua vida mudaria após o nascimento de Alex. Tudo
foi uma surpresa. Logo que nasceu foi diagnosticado com a doença popularmente
conhecida como OSSOS DE VIDRO. A
condição, cientificamente chama-se Osteogênese imperfeita, que é caracterizada
pela fragilidade dos ossos. Para carregar Alex, era necessário uma espécie de
cuidado diferenciado, porque qualquer movimento mais brusco ou apenas um vento,
poderia vim a estalar e quebrar o pequeno corpo.
Após esse obstáculo ser descoberto, mais uma
adversidade surgiu na vida do menino. Uma forte pneumonia o abateu, durante a
estadia nos hospitais. Devido a isso, ficou quase 2 anos, ininterruptos, indo e
voltando, no Padre Colombo e no Jofre Cohen. Ficavam no máximo uma semana
inteira em casa, e depois voltavam para os hospitais.
Era uma luta árdua que sua mãe Helen travava
para manter o filho vivo. Após as idas e vindas aos hospitais de Parintins, a cura
da pneumonia para o menino, que viria a ser uma surpresa para todo mundo, por
causa das façanhas que realiza, apesar de depender de uma cadeira de rodas para
se locomover, se concretizou através de remédios caseiros.
FRATURAS E CIRURGIA GRAVE
Ao longo da vida, com 14 anos, por causa da
fragilidade óssea, Alex tem mais de 200 complicações nos ossos, envolvendo
fraturas e apenas luxações, que começaram a sessar quando iniciou a tomar uma
medicação especifica. Mas, antes alguns ossos quebrados, estiveram passivos à operação.
Em uma dessas ocasiões, quando foi operar a perna esquerda, com apenas 11 anos,
a intervenção cirúrgica trouxe complicações.
Quando se pensava que estava tudo bem, uma
falta de ar o acometeu: “Quase eu morri porque me deu uma grande falta de ar.
Os enfermeiros chegaram e me socorreram, colocando um tubo de oxigênio em mim parar
eu voltar a respirar. Foi um alivio. Pensava que eu ia morrer” fala Alex,
relembrado tudo o que passou.
Apesar dos problemas nos ossos ter amenizado,
o remédio, responsável pela recuperação, não pode ser interrompido. A uma ajuda
muito grande por parte de seus amigos e da Escolinha Show de Bola, para conseguir
dinheiro e continuar tomando o medicamento.
A
LUTA PARA ESTUDAR
Alex estudou na Pestalozzi até os 7 anos de
idade. Porém não tendo mais imperativos que o impedissem de desbravar os
ensinos regulares, partiu para ter o direito que todos possuem, garantido pela constituição
brasileira. Mas, acabou com as portas fechadas
das escolas quando foi em busca de matriculas, com a alegação de que não tinham
estrutura para aceita-lo, tendo em vista que seu único problema são nos ossos e
nas pernas, não tendo qualquer deficiência mental ou inatividade motora que o
impedisse de frequentar as aulas.
Muitos obstáculos aparecerem para ter as
recusas: não possuíam monitores, profissionais formados na área e etc. “Eu tive
que correr muito atrás, ir na SEMED, ameaçar para poder conseguir uma vaga na
Escola Municipal Lima Maia” discorre Helena com um ar de tristeza.
Até o próprio Alex disse que iria em todos os
meios de comunicação falar sobre seu caso, se nada fosse resolvido. Tudo que
ele queria era estudar e ter o direito de adquirir conhecimento, e conseguiu.
PRECONCEITOS
No começo, na escola, ouve um estranhamento
dos colegas. E alguns acabaram chamando-o de aleijado. “Não gosto que me chamem
assim, porque eu não pedi para ter nascido com minha deficiência”, confessa Alex,
quando teve o primeiro contato com a escola regular.
Sua mãe, sempre chorava com ele, quando
chegava em casa e contava o que se passava na escola ou em qualquer outro
lugar. “Eu digo sempre: ‘meu filho, não dá importância, porque as pessoas que
zombam de ti, tem mais deficiência do que você’. E de vez enquanto, ainda
encontramos alguns ‘burrinhos’ que ainda não sabem lidar com a condição dele”.
“O
FUTEBOL ME LIBERTOU”
Alex é torcedor do Flamengo do Rio de
Janeiro. “Em cada jogo do Flamengo é capaz de eu entrar na televisão, sou um
torcedor raiz”. Por isso, instintivamente a vontade de jogar floresceu no
pequeno. Apesar de sua deficiência nos ossos não permitir a prática do esporte,
pôr o futebol ser de auto contato e risco, o garoto insistiu na ideia. E nessa
empreitada, um incentivador esportivo apareceu na vida do garoto. Beto Pupunha,
o convidou para começar a treinar em sua escolinha de futebol.
O
primeiro dia, todo paramentado no uniforme e chuteira, apareceu no campo meio
amedrontado. Quando chegou todos olharam, porque ele, joga bola diferente dos
outros. “Perguntaram de mim porque eu não levantava, e aí eu expliquei tudo, e
eles entenderam. Assim, ganhei muitos amigos”.
Como tem dificuldades de ficar em pé, a única
alternativa é ficar sentado pra tentar driblar e chutar a bola. Por incrível
que parece se locomove arrastando-se e com rapidez, mesmo sentado.
A mãe está sempre à beira do campo, assustada
com a coragem do filho no momento da disputa de bola. Alex não foge muito as
características de um jogador. Até catímba,
reclamações e marcação são pedidos por ele, durante o jogo.
Tudo foi um processo, principalmente os
ensinamentos que a Escolinha Show de Bola repassou para os colegas de campo, como
a equidade. “O Beto mandava todos os alunos fazer o mesmo movimento que meu
filho fazia. Ficavam sentados e tentavam jogar na mesma posição. Tudo isso para
os outros sentirem as dificuldades que o Alex passa no dia a dia e por
consequência respeita-lo”, conta dona Helena com um ar de agradecimento pelo
carinho que seus colegas e amigos tem por ele.
O futebol o libertou, fez com que seus ossos
se desenvolvesse, além de tornar possível a fisioterapia, que antes do contato
com o futebol o médico não permitia por cauda da fragilidade dos ossos. Até os
preconceitos de muitas mães foram quebrados. Quando Alex começou a jogar
futebol, demostrando que era possível e normal, os pensamentos maldosos em
ralação ao pequeno se transformaram.
Até o próprio horizonte de Alex se expandiu,
muito por causa dos sonhos que tem para a vida: “Eu quero ser Jogador de
futebol, médico e policial”, exclama o pequeno grande homem, que luta todos os
dias para conquistar seu espaço no mundo.