sábado, 21 de março de 2020

“Mãe Querida”: o zagueiro parintinense que jogou por 27 anos no Sul América


Edmilson Mãe Querida, jogou por 27 anos no Atlético Sul América Clube, três anos pelo São Cristóvão e foi convidado para fazer teste no Vasco do Rio de Janeiro, com apenas 19 anos. Só não foi porque os pais não permitiram. 


POR: JOSÉ BRILHANTE
Mãe Querida nos tempos atuais e campeão em 1970 pelo Sul América

Com apenas 15 anos em 1954, em uma Parintins pacata, com seus encantos da década de cinquenta (cinemas, passeios nas praças, brincadeiras de bois na rua e cabarés), e com o futebol como principal entretenimento, Edmilson, mais conhecido como Mãe Querida, começava a carreira no futebol.
O primeiro clube que o aceitou foi o Sul América, o Sulamba, por intermédio de Codibí que o convidou.  Segundo Mãe Querida ainda não tinha recebido convite de ninguém: “Ninguém tinha me convidado, aí como eu gostava de bola e sabia que o clube tinha jogadores bons, fui para o treino, onde seu Davi, o técnico, me observou e gostou de mim”. Desde então entrou no time.  

O clube na ocasião, treinava no campo do Bangu, que depois virou o campo do Estrela do Norte, chamado Quebra “Pica”, e onde atualmente se encontra o curral do Boi Caprichoso.

Na época que Mãe Querida começou, o estádio Tupy Cantanhede ainda nem existia, era o tabladão. O palco da história futebolística da ilha tupinambarana, foi fundado somente em 1957, com o nome de seu idealizador. 

Edmilson com o círculo vermelho. Data da foto desconhecida

Como Parintins nunca teve um futebol profissional, os jogadores sempre foram amadores e tinham outros empregos. “Saía do trabalho, como estivador do porto, na carreira para o campo. Gostava tanto de jogar, que nem parecia que passava o dia todo trabalhando no pesado.  Chegava pronto para o jogo!” relata Edmilson Mãe Querida, com felicidade no rosto. 


CONVITE PARA JOGAR NO VASCO DA GAMA
Na ocasião, em 1959, com apenas 19 anos, era titular do Sul América e estava trabalhando como estivador, embarcando juta em um navio que ia para o Rio de Janeiro. O comandante da embarcação, também sócio proprietário do clube vascaíno, sabendo do talento do ainda garoto Edmilson, fez a  proposta:
 
- Você quer fazer um teste no Vasco da Gama?
- Se o senhor permitir, eu quero – responde Edmilson Mãe Querida
- Então vou fazer o seguinte, amanhã tu já viaja – respondeu o comandante, encantado pelo futebol do garoto parintinense.

Na manhã seguinte, Edmilson, com as malas prontas e o entusiasmo lá no alto, ouve o pai indagando pra onde ele ia.

- E essa maleta? Perguntou o pai
- É para ir pro Rio de Janeiro, papai, fazer um teste no Vasco da Gama – respondeu Mãe Querida
- Você não vai, não tem nada assinado.

Aí o sonho de Edmilson foi embora, depois da obediência perante o pai. O temor era justificável. Na época, sem muitos conhecimentos, muito maldade era disseminada ou inventada para os parintinenses, quando se tratava de grandes cidades.   

TÍTULOS
Com uma longevidade incrível em um só clube, o grande zagueiro, não deixou de ganhar títulos nos vinte e sete anos que atuou no Atlético Sul América Clube. Conquistou 13 títulos (1957, 1958, 1959, 1960, 1964, 1965, 1967, 1969, 1970, 1973, 1974, 1977, 1980) do campeonato parintinense. Mas fotografados, a equipe de reportagem conseguiu somente três títulos.  Muito por causa da dificuldade tecnológica da época, que não existia na cidade e também por mais de 70 anos que se passaram e os arquivos foram se perdendo com o tempo. 
Campeão de 1967, Sul América. Em pé: Edval Viana, Lelé, Balaustre, Edmilson Mãe Querida, Dodô Menezes e Mario Gama. Sentados, estão, Juran Vieira, Paulo Menezes, Cabinha, Ednei Faria e Zé Augusto. Foto: livro Ecos da saudade


Sul América Campeão de 1969. Em pé: Sulanca, JJ, Lelé, Edival, Sabá, Edmilson Mãe Querida, Alan e Dodó. Agachados estão, Geraldo, Preto, Nonato, Paulo Castro, Sebastião, Bóda e Tenório.

Sul América, campeão de 1970. Em pé, da esquerda para direita: Sulanca, Nonato Carcará, Aldari, Mãe Querida, Paulo Castro e Dodó. Agachados: Viana, Alan, Preto, Boda, bode Bartolomeu, Pena e João Júlio.
Foto: acervo pessoal de Paulinho Faria

APOSENTADORIA
Edmilson, ficou no Sulamba por 27 anos. Entrou no time sendo apenas um menino. Saiu já com seus 42 anos e, encerrou a carreira no São Cristóvão, jogando mais três anos. Agora já octogenário, aproveita a vida na igreja, passeando pela cidade e conversando nos finais de tarde, na frente da catedral, com os amigos das antigas. 
 






 

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