Para
ir a Manaus, onde fez sucesso, levou o amigo também jogador Luiz
Carlos, o Tubarão, que lhe defendia com “unhas” e “dentes”,
em momentos difíceis. Para demostrar gratidão, exigia para os
dirigentes do Nacional, seu primeiro clube na capital, que seu colega
ganhasse o mesmo ordenado que ele. Inclusive a sua contratação só
se deu com o Nacional, por uma condição: o Tubarão também teria
que assinar contrato.
POR:
JOSÉ BRILHANTE
Time
de 1999, que conseguiu o
acesso à série
B do Campeonato Brasileiro
Fotos:
divulgação
Delmo
Arcângelo agora com 46 anos, começou a jogar em sua terra natal,
Parintins, em meados da década de oitenta, na época do CRCC da
Clarindo Chaves e Cordovil, ruas localizadas no centro da cidade de
Parintins. Jogou ainda com nomes importantes da época como o goleiro
Marco Aurélio, e Coimbra, lateral direito.
Em
meados de 1987, faz um teste no Nacional de Parintins, clube de
primeira divisão local. Mas, seu pai Ney, ex-jogador do Amazonas
Futebol Clube (Cobra Coral) e torcedor fanático do mesmo time,
interveio e o levou para seu time do coração. Na época o técnico
era Parrudo, que colocou um apelido no ainda menino, até então
desconhecido do público amazonense: “Ele me apelidou de Cólera,
porque eu era muito magro e rápido” fala o maior artilheiro do
estado do Amazonas, Delmo.
Fechou
o ciclo no Cobra Coral em 1994 quando foram campeões do Campeonato
Parintinense, invictos, com um time formado totalmente de graça. No
mesmo ano foi para o Nacional de Parintins, clube que poderia ter
iniciado à carreira no amador. “Em casa foi maior ‘pau’ quando
descobriram. A minha família era toda Amazonas roxo. Mamãe era
Amazonas doente e não gostou nada quando ouviu à notícia da rádio
local anunciar que jogadores importantes do Cobra Coral estavam se
transferindo para o Nacional (ainda de Parintins):
-
Dois jogadores importantíssimos saíram do Amazonas e estão indo
para nacional –anuncia a Rádio Alvorada com sua mãe ouvindo
-
Quem será esses dois? Falou a mãe de Delmo praguejando sem saber
que um dos jogadores era seu filho!
Delmo
escondido, ouviu e viu a reação de longe. Saiu de “fininho”,
voltou somente no fim da tarde e pegou uma “esculhambação”.
Naquele tempo a rivalidade em Parintins entre clubes era ferrenha. E
quando o jogador pertencia a um time que a família era torcedora, aí
a situação piorava.
“VOOS”
MAIORES
Começou
a participar da Seleção Parintinense e posteriormente da Copa dos
Rios, uma competição intermunicipal entre todos os municípios do
alto e baixo Amazonas.
Em
um jogo pela seleção em Manacapuru, um técnico o viu, se
interessou, porém as negociações não vingaram. As verdadeiras
chances aparecerem quando conheceu Mário Gaúcho, um paulista que se
encantou pelo seu futebol e o levou-o para fazer testes nos clubes da
capital. Mas, não queria ir sozinho e acabou levando seu amigo Luiz
Carlos, o Tubarão, também jogador. O primeiro teste foi no Fast.
Quando chegaram no clube não se adaptaram, logo no primeiro treino.
Posteriormente
acabaram indo para o Nacional Futebol Clube em 1996 por intermédio
de João Enrique, dois anos mais tarde de atuar no clube com mesmo
nome em Parintins. “Fomos fazer o primeiro treino com bola. O
treinador não gostou de mim e nem do Tubarão”. Ao acabar o
coletivo, Delmo chama o treinador e justifica:
-
Professor o senhor me colocou no meio de garotos para jogar com o
time profissional. Isso não tem cabimento. O senhor quer realmente
fazer um teste comigo? Me dê mais uma chance me colocando no time
principal.
-
Amanhã é sua última oportunidade. É um jogo treino com um time de
fora e vou lhe colocar – falou o técnico.
No
jogo, dentro da Base Aérea de Manaus, estava toda à diretoria e
cúpula do Nacional. O campo era um tapete. Quando viu aquilo, Delmo
desabafou em seus pensamentos: “Ou é hoje ou nunca”.
Durante
o jogo, já no final do segundo tempo com o Nacional empatando em 1 a
1, o atacante entra para começar a escrever sua história no futebol
amazonense e brasileiro. Quando pisou no gramado, em menos de 30
minutos, sua estrela brilha, faz três gols, garantindo à vitória
por 5 a 1.
Há
noite no mesmo dia, já estava assinando o contrato com o Nacional.
Mas nada ainda estava certo. O já quase contratado impôs uma
condição: só firmaria com o clube se o amigo Tubarão também
assinasse contrato, ganhando o mesmo valor. “O Luiz Carlos Tubarão
me defendia com unhas e dentes, um amigo leal, quando queriam
rebaixar a gente por nossas origens” desabafa o atacante
artilheiro.
Mas,
uma situação o entristeceu no ano seguinte: a não renovação do contrato de seu
amigo.
COPA
DO BRASIL 1997 (NACIONAL X FLAMENGO DO RIO DE JANEIRO)
Logo no primeiro jogo enfrentou o Flamengo do Rio de Janeiro, com Romário e companhia limitada.
Durante toda a preparação, Delmo vinha sendo titular, mas no dia da partida, na preleção, ficou no banco. Assistindo de “camarote”, foi testemunha de uma goleada do Flamengo sobre seu time.
Logo no primeiro jogo enfrentou o Flamengo do Rio de Janeiro, com Romário e companhia limitada.
Durante toda a preparação, Delmo vinha sendo titular, mas no dia da partida, na preleção, ficou no banco. Assistindo de “camarote”, foi testemunha de uma goleada do Flamengo sobre seu time.
Já
com o placar em 6 a 1 para o Rubro-Negro,
e faltando uns 10 minutos para terminar, Delmo começa a falar no
banco de reservas para todos ouvirem: “Se
eu entrar vou fazer um gol”.
Nunca agia dessa forma, sempre foi cauteloso em suas promessas. Mas,
àquela oportunidade de jogar não poderia passar.
Em
meio a protestos entrou na partida. Foi correria e muita vontade,
porque tinha que cumprir o prometido. Em uma disputa de bola com
Júnior
Baiano, jogador do Flamengo, o atacante nacionalino aplica um drible
de corpo no defensor carioca, e a bola sobra, fazendo o gol.
Assim,
um Parintinense corria desesperado de felicidade para seus
companheiros comemorando o seu primeiro gol contra um time grande,
mesmo com
a
derrota por 6 a 2.
RIO
NEGRO 1998
Seu
passe era livre e acabou indo para Rio Negro. Chegou no clube
ganhando luvas (bicho) e com a fartura de gols lá em cima,
totalizando mais de 16 na temporada. Nesse ano, jogando pelo Rio
Negro, Delmo chegou à decisão do estadual contra o São Raimundo,
onde foi decidido no tapetão por causa de uma polêmica. Bugrão,
para o Tufão da Colina, marca um gol de mão, deixando o placar em 2
a 1. Porém tudo foi decidido no STJD, no outro dia, com o São
Raimundo ficando com o título.
SÃO
RAIMUNDO (TUFÃO DA COLINA) 1998
No
mesmo ano, após o fim do Barezão, se transferiu para o São
Raimundo. Chegou e não podia jogar a próxima competição, Copa
Norte, porque já tinha atuado pelo Rio Negro. A rotina era somente
treinamento em preparação para série C do Campeonato Brasileiro.
Dentre todas as dificuldades, acabou virando umas das estrelas do
técnico Aderbal Lana.Todos
seus títulos relevantes no profissional foram conquistados jogando
pelo Tufão da Colina. Ganhou três vezes o estadual amazonense
chamado Barezão (1999, 2004 e 2006), foi tricampeão da Copa Norte
(1999, 2000 e 2001) e em mil novecentos e noventa e nove conseguiu o
acesso à série
B do Campeonato Brasileiro de 2000, onde jogou por 7 temporadas.
Foto:
Arquivo pessoal de Delmo
No
clube, o gol mais importante da sua vida foi um de pênalti contra o
Vila Nova no estádio da Colina, em 2006,
quando
perdiam por 3 a 2 e estavam caindo para série C do Campeonato
Brasileiro. Já tinha feito um no jogo, mas, evitou a queda do Tufão
da Colina, quando Aderbal Lana, técnico da época, pediu para que
ele fosse cobrar o pênalti que empataria o jogo e daria esperança
para seu clube. No fim, Alberto, companheiro de time amplia o placar
e o jogo encerra em 4 a 3, com o São Raimundo vencendo e adiando sua
queda.
SÃO
PAULO X SÃO RAIMUNDO (COPA DO BRASIL - 2003)
“Me
lembro que nossa concentração foi em hotel no Distrito Industrial.
O São Paulo trouxe Luiz Fabiano, Kaka, Ricardinho, Rogério Ceni,
Miranda e outros. Somente craques. Saímos do hotel com os torcedores
soltando fogos e festejando muito. Foi um jogo sensacional. Colocamos
o São Paulo praticamente uns 15 minutos na roda, com a torcida
gritando olé” contou Delmo nostálgico.
Ganharam
por 2 a 0, com um dos gols do goleador parintinense no segundo tempo,
em um escanteio, subindo na frente de Miranda e fechando fatura para
o São Raimundo.
QUEBRA
DE RECORDE
Em
2004, Delmo quebra o recorde de gols marcados em uma só edição do
estadual, jogando pelo São Raimundo. O antecessor Lívio, atacante
do Rio Negro, com 22 gols, perdurava com esse feito há mais de 30
anos. Só que em dois mil e quatro, o
atacante artilheiro
estava iluminado e supera essa
façanha com 24 gols, mesmo ficando de fora por lesão, nos dois
últimos jogos do campeonato.
Seis
anos mais tarde, em 2010, se aposenta e pendura as chuteiras, para tristeza dos torcedores amazonenses.