Na época em que começou a jogar no
Campeonato Parintinense, na década de setenta, a rivalidade entre Atlético Sul América
(Sulamba) e Amazonas Esporte Clube (Cobra-coral) pulsava ao extremo, a ponto
de lotar o Tupy Cantanhede e gerar muita paixão em Parintins.
POR:
JOSÉ BRILHANTE
Fotos: arquivo pessoal de Jorge Canal
Jorge nasceu em uma Parintins do
passado, que oferecia ao máximo, condições para que se tornasse um jogador de
futebol. Existiam muitos campos espalhados por Parintins, inclusive ao redor do
aeroporto antigo, localizado onde hoje é o bumbódromo.
Como sempre gostou do esporte, na sua infância,
abusava da brincadeira de bola. Sempre veloz, habilidoso e com uma dose de
provocação, para se defender, devido ser franzino, já se destacava nas quadras
de futsal e campinhos de futebol. “Já
tinha o CCE no Urubuzal. Nós invadíamos pra
jogar futebol de salão. Eu jogava de manhã, de tarde até a noite. E ainda
jogava descalço na quadra quente” lembra Jorge.
O
COMEÇO
Era juvenil do Sul América (Sulamba), na
época os times possuíam categorias de base. Houve um torneio início, e Idário, integrante
do Estrela do Norte o convidou para jogar. Jovem e com muita vontade, aceitou.
Jorge Canal, não sabia jogar de chuteira e em
sua estreia jogou com uma Kichute. Por ironia do destino, foram campeões do
torneio início. “Cara no outro dia era Pedrinho e Preto Buretama, todos atrás do
papai, pensando que eu já era do Estrela” rememora Jorge Canal.
Sem perder tempo e risco, o assinaram logo,
com medo de perdê-lo para o adversário.
ERA
INVOCADO DENTRO DE CAMPO
Como
era um meio-campo jovem, muito veloz e habilidoso, causava raiva aos
adversários. E naquele tempo, quando não havia toda essa parafernália tecnológica, com algumas regras inexistente, a pancadaria cantava. Como ele
tinha as característica do jogador caçado dentro das quatro linhas, era sempre o
“felizardo”.
“O finado Dias era zagueiro e batia muito,
logo quando eu entrava em campo contra o Amazonas. A primeira bola que eu
pegava, ele carregava nas duas. ‘Eu dizia: a tu queres né!’. Quando ele vinha,
na segunda eu já dava cotoveladas na cara dele para me defender. Ele era forte.
Aí ele se mancava. Mas era só no campo, quando acabava o jogo todo mundo estava
amigo” relata o jogador. Mas, as provocações com outros jogadores existiam.
- Ei tuberculoso? - provocava Gelson, só pra irrita-lo dentro de
campo
Como resposta usava o ciúme que o algoz
sentia pela esposa
– E tu seu corno, que está jogando bola enquanto
tua mulher tá com outro.
Com muita raiva, Gelson corria descontrolado
atrás de Jorge. Deixava até de jogar para persegui-lo.
TÍTULOS EM PARINTINS
Jorge é o sexto homem, agachado da esquerda para direita
O jovem, começou a jogar no Campeonato
Parintinense em 1973, pelo Sul América, com 19 anos. Logo foi campeão e
bicampeão em seguida (1974). O último título foi em 1976, quando voltou da
temporada no futebol profissional manauara.
O
fenômeno Jorge, foi um caso à parte, porque para conseguir entrar em um dos
grandes e ser titular, era muito difícil, e ainda teve a oportunidade de fazer
o jogo histórico, em 1973, quando Garrincha veio em Parintins para fazer um
amistoso.
“No primeiro tempo, Garrincha jogou pelo Sul
América e não jogou nada. No segundo começou a jogar futebol. Em um escanteio
que cobrou, já jogando pelo Amazonas (Cobra-coral), Bereco fez o gol. Não
abracei ele, fiquei muito puto por ele não ter jogado nada pelo nosso time”
explica Canal depois de 40 anos passados.
O jogo ocorreu em uma tarde de sábado, 02 de
junho no Tupy Cantanhede, com Garrincha jogando nos dois times (Amazonas e Sul América),
um tempo em cada, terminando em 1 a 0 para o Cobra-Coral.
Garrincha é o segundo homem agachado da esquerda para direita e Canal o
quarto jogador
Na seleção conquistou um título Intermunicipal em
1973 (campeonato entre os municípios do Amazonas), no mesmo ano que começou no
Sulamba principal. Na ocasião, com o
título ganho, passaram um perrengue para sair do estádio em Itacoatiara, devido
os torcedores da seleção itacoatiarense estarem revoltados. "Saímos nove horas da noite do estádio Floro de
Mendonça, porque o prefeito Benedito Azedo chamou a polícia pra fazer fila
indiana e nos escoltar para fora. Até jogaram uma pedra na cabeça dele” lembra
Jorge Canal da rivalidade entre os municípios dentro de campo.
Quando chegaram na Fabril Juta, em Parintins, mandaram pegar foguete,
cerveja, para comemorar. Parintins inteira estava esperando por eles. Segundo o
jogador, ninguém pisou no chão. Foram deixá-los na prefeitura, carregados.
A
VINDA PARA O NACIONAL DE MANAUS E A PROFISSIONALIZAÇÃO
Era 1975, veio disputar o intermunicipal, no
parque amazonense, quando seu futebol e, do amigo Allan, despertou interesse
nos dirigentes do Nacional de Manaus, um clube até hoje profissional. Ficou uns 8 meses no time, até que não aguentou
a saudade de sua amada, que ficou em Parintins.
Era uma promessa, no campeonato de 76, já com
seus 22 anos, no Vivaldo Lima jogou duas partidas, mas, resolveu ir embora. “Aí
falei pro diretor da época que eu estava indo. Ele disse: ‘Jorge não vai embora
não. Nós vamos te fazer um Zico’. Aí liguei pro papai e fui embora para
Parintins” diz.
O
AMOR E A PRECOCE APOSENTADORIA
Quando
chegou, uma manchete no jornal acrítica dizia: “Ponta de lança, foge do Nacional
em busca do amor”.
Nessa volta à terra natal, mesmo sofrendo o
revés de voltar a categoria amadora, ainda chegou a jogar os campeonatos de
1976, onde foi campeão, totalizando três títulos do Parintinzão. Atuou por mais
dois anos, em 1977 e 1978.
Muito jovem, com 25 anos, decidiu interromper
a carreira para casar com sua esposa Peta, em 1979. Assim, o amor falou mais alto
que o futebol.
ACERVO FOTOGRÁFICO
Jorge Canal e Allan, na atualidade, companheiros de Sul América
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