terça-feira, 8 de maio de 2018

Raimundo Inácio, o “Piolho”: um vencedor que chegou na Seleção Brasileira de handebol


A convocação para Seleção Brasileira de handebol, ocorreu quando passou para a faculdade de Educação Física. Os colegas, o pegaram e rasparam sua cabeça como trote de iniciação! Aí foram duas emoções, aprovação na universidade e convocação para o time nacional.  

POR: JOSÉ BRILHANTE 
Fotos: arquivo pessoal de Raimundo Inácio 

                                          
Parintins, 1969 a 1972Os pais ficavam em frente às casas, nas calçadas para observar a molecada em horário de brincadeira e, com Raimundo Inácio, o Piolho, com apenas sete anos de idade não era diferente, seus pais, Jorge Pinto e dona Geralda, faziam a mesma coisa. Como na época a televisão era só para os mais afortunados, a única diversão era estripulias na rua.
A casa de Piolho era no centro de Parintins, próximo ao Baranda. Não existia muitas casas por ali, os terrenos eram grandes e cheios de árvores. Um prato cheio para brincar de geral, barra bandeira e pular de galho em galho. De noite, as aventuras continuavam. Com o passar dos anos, Raimundo, aprimorou-se nessas atividades que exigiam o máximo de destreza e esforço físico, só faltava canalizar para algum esporte. Os 10 anos que passou na cidade foi uma escola para seu esporte de sucesso (handebol), que até então era desconhecido.
O apelido Piolho veio de seu primeiro técnico, Lúcio Albuquerque. Logo que apareceu para treinar, todos especularam um codinome, porém quando o treinador olhou para ele, viu um cabeção e o corpo franzino, e logo disse que parecia um piolho. Desde então é conhecido no meio do esporte por este apelido. 

CONVITE PARA O HANDEBOL
Raimundo Inácio, o Piolho, saiu de Parintins com dez anos de idade, devido a transferência de seu pai por motivo de trabalho. Ficou longe de Manaus, cidade de onde é natural por este mesmo tempo, porque veio para ilha tupinambarana recém-nascido.
Após voltar à cidade natal, conheceu o handebol, através do convite dos irmãos. Era pequeno perto dos companheiros, mas devido aos anos de treinamentos (brincadeiras de rua), todos os fundamentos eram feitos com rapidez e habilidade em todas as posições, mas jogava na armação esquerda e central.
Ainda na infância ficou conhecido como bom atirador de pedras, que apanhava frutas no “toquinho”. Em uma das ocasiões de viagem, enquanto estudante universitário, Raimundo Inácio precisou vir a Parintins com a organização dos jogos escolares. Nessa ocasião encontrou um motorista, conhecido da família, que lembrou dele e de suas habilidades na pontaria.
- Você não é o filho de seu Jorge, do Banco do Brasil? Aquele que derrubava manga pelo cabo, sem ferir a fruta?
-Sim, sou eu - respondeu Raimundo Inácio
- Muito prazer, nem acredito, você está muito diferente! – exclamou o motorista.
Ao se despedir, o motorista, nem imaginava que esse talento, anos atrás, foi essencial para o desenvolvimento no esporte, onde Inácio estava fazendo sucesso. 

 ATLETA DE FÁBRICA
Logo foi notado pelas suas habilidades e, aos 15 anos, após 36 meses de treinamentos no Olímpico Clube (time que jogou), em 1977, Piolho, já fazia parte da primeira Seleção Amazonense juvenil. Em 1979 na mesma seleção chegou as semifinais dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs), em Brasília, Distrito Federal. Ao completar 18 anos, já não podia mais jogar os jogos escolares brasileiro que vinha participando ano a ano. 
Ao saber das habilidades do jogador a fábrica EVADIN, (produtora dos aparelhos AKAI, AIKO, E MITSUBISHI), em 1979, contratou o jovem atleta para competir nas Olimpíadas Operárias que se realizava todos os anos entre as empresas de todo o Brasil, no mês de Maio. Em relação a essa competição Piolho relata com muita nostalgia: “A cidade parava para assistir as competições. A presença das empresas no dia da abertura, sempre em primeiro de maio (dia do trabalhador), contava ponto para classificação final, era uma grande festa. As empresas grandes, para reforçar suas equipes contratavam atletas para compor o quadro de funcionários. Imagina cinco ou seis ônibus indo para a torcida animar. E ainda deixavam o pessoal em casa após os jogos. Então era assim o handebol na minha época em que jogava”.
Sendo assim, acabou se profissionalizando pela empresa, ganhando salário somente para jogar no período de 1979 a 1988. Era contratado como técnico de esporte, porém sua real função era atleta de handebol. E como esportista oficial, servia também como garoto propaganda da empresa.
Foi pentacampeão de 1981 a 1985 pela Evadin. E por consequência a empresa tornou-se a vitrine de Raimundo Inácio, o Piolho, para Seleção Amazonense e para a seleção do Brasil. Mas, o fatores decisivos para se destacar foram as habilidades que possuía e os campeonatos brasileiros que disputou. Inclusive anos depois, em 1988, foi campeão brasileiro adulto, pela seleção do Amazonas.   


JOGO INESQUECÍVEL
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) versos Senesc, nos Jogos Universitários do Amazonas (Juas-1988). Na ocasião surgiu a necessidade de ser goleiro. Os cinco primeiros minutos foram tensos. Todos os arremessos que o adversário lançou foram gols, muito pelo nervosismo que Piolho sentia no momento. O goleiro por um dia, relata como foi experiência de ser defensor: “Depois que sofri nos minutos iniciais eu dei um tapa na minha cara e disse pra mim mesmo: 'Ei rapaz, acorda! Está lesando é?'. Depois disso o time se espertou para o jogo e piolho acabou defendendo três sete metros (pênalti na linguagem do handebol), defendeu cinco bolas decisivas e ainda fez sete gols em baixo das traves, ganhando o fatídico jogo por um gol de diferença. 

SELEÇÃO BRASILEIRA
“Eu tinha entrado para faculdade de Educação Física e, lembro que estava no aniversário de uma atleta de handebol. Os convidados, sabendo disso, me seguraram e rasparam meu cabelo como em um trote de iniciação. Na semana seguinte, chegou a convocação para Seleção Brasileira de handebol. Foi uma emoção inexplicável, fiquei extasiado, foi para mídia e tudo. Então foram duas felicidades: passei na faculdade e fui convocado, tudo ao mesmo tempo”.  
Piolho estava com 21 anos, na sua primeira chamada, ainda era pra seleção júnior do Brasil. A equipe treinava para COPA LATINA em Marrocos, mas, devido a eminente guerra civil no país, a competição foi suspensa.
No ano seguinte em 1984 a convocação já foi para seleção adulta, visando o campeonato sul-americano. Na ocasião sofreu um choque de realidade. A seleção não possuía um investimento necessário para se ter uma boa estrutura de treinamento. E ainda existia a falta de comprometimento de alguns jogadores convocados de São Paulo que chegavam pela metade dos treinamentos. Depois de uns 15 dias a lista de corte chegou e Raimundo Piolho e mais alguns outros foram desligados do grupo.

DE JOGADOR A MESTRE EM EDUCAÇÃO FÍSICA
A partir de 1986 em diante, a crise financeira atingiu a indústria e, a Evadin foi parando com os incentivos a modalidade e por consequência não participando mais das competições. A escolha intelectual para si, foi devido ao pensamento lógico que teve quando exercia a profissão de jogador. Um dia parou e pensou que não sobreviveria o resto da vida jogando handebol. Como era contratado da empresa só para ser atleta, obtinha de tempo para estudar. Fez o
Vestibular pra Educação Física em 1983. Passou e começou na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em Manaus. Formou-se em 1987. Um ano depois, perdeu o emprego de jogador, mas já estava exercendo a profissão de professor. Em 2006 pela universidade de Sorocaba, apresentou sua dissertação de mestrado, intitulada, OS JOGOS E BRINCADEIRAS DE RUA, PULANDO MURO DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE MAUÉS NO AMAZONAS, que abarca justamente as brincadeiras de rua que o ajudaram no handebol.
Em três décadas  de ensinamentos nas escolas e universidade, como educador, escreveu dois livros, um com parceria de outros colegas e o outro com seu irmão, João Bosco da Costa Pinto. O primeiro livro chama-se – Handebol: Aspectos Pedagógicos e Técnicas - que relata a experiência de anos no esporte, desde a história do esporte em questão, regras e treinamentos, escrito para o curso de Educação Física da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) em 2009. O segundo foi em contrato firmado com a editora Valer, intitulado - Handebol: Reflexões Didático-Pedagógicas e Técnicas - que demonstra quase o mesmo assunto, mas com temas mais aprofundados, ou seja, os livros tratam do handebol em todos os seus ensinamentos e fundamentos.

AVENTURA POLÍTICA
A contribuição para o handebol como jogador, treinador e dirigente, já não era mais suficiente. Chegou a amparar muitos jovens em situação de risco social com o esporte e, devido a sua trajetória esportiva vislumbrou a possibilidade de fazer algo em prol do esporte. E em 1996 acabou se candidatando para vereador em Manaus. Na campanha não possuía recursos, e para driblar as dificuldades, colocou um som em seu carro e passou a chama-lo de piolho móvel”. Assim, começou rodar toda cidade de Manaus, com o slogan que dizia: “Fique de olho, vote no piolho”. Não foi eleito, porém absorveu experiência. 


OLHAR CRÍTICO DO MESTRE
“O grande problema não é só aqui em Parintins, mas no estado todo. Não temos estrutura para trabalhar com o esporte. Não existe um espaço que possamos utilizar com mais frequência. Temos o ginásio Elias Assayag, mas é pago. De certa forma precisa fazer a manutenção e nesse ponto até concordo com a cobrança de taxas. 
No meu entendimento, incentivar o esporte não é só dar a bola e equipamento para o pessoal jogar, é sobretudo criar políticas públicas direcionadas ao esporte, que atenda a juventude parintinense, criando programas esportivos com duração mínima de um ano, com a avaliação, ocupando as praças esportivas da cidade com ações planejadas e com profissionais qualificados”.

ENCONTRO COM O REPÓRTER PARA ESSA BELA HISTÓRIA
Saí muito apressado, como um repórter iniciante. Nem falo do transporte que uso pela necessidade financeira. Costumo dizer que pratico o ciclismo forçadamente! Mas não é a minha história que importa aqui. Vamos ao que interessa!
No primeiro encontro, só me restava 30 minutos de conversa, devido ao aluno que ia orientar-se sobre trabalho de Conclusão de Curso(TCC). O mestre, outrora campeão de handebol, me esperava em sua sala, sentado e tranquilo.  Quando entrei, cumprimentou-me com um sorriso no rosto. Logo pensei: "Irei sair daqui com uma bela história para publicar!". 
A conversa iniciou e, a felicidade de relembrar suas glórias e tristezas para esse repórter que vos fala, era aparente. O computador é a prova do “crime”, carregado de fotos e vídeos que remontam os melhores dias de sua vida, como o mesmo fala. A cada registro que encontrava no notebook, eram centelhas de lembranças que se materializavam quase que de imediato para a felicidade do repórter.
Ao fim da entrevista Raimundo Inácio, na segunda seção de diálogo, sempre com o carisma, mesmo depois de horas de conversa, acaba revelando o apelido paralelo, Tom Gruise da floresta, adquirido na universidade, devido a suas chegadas para dar aula, “disfarçado” com óculos escuros. 




ACERVO FOTOGRÁFICO
Família Pinto


   Seleção Amazonense 


Seleção Amazonense no  JEBs da Paraíba, 1978. Inácio é, o sétimo homem da esquerda para direita com  16 ANOS


Lançamento de um de seus livros 
Primeiro técnico: Lúcio Albuquerque




  

















    


Nenhum comentário:

Postar um comentário

POSTAGENS RELEVANTES