Por: José Brilhante
Foto: José
Brilhante Futebol assim, só com os talentos do
passado
Nas décadas de 60 a 90 vivemos o apogeu do
futebol em Parintins. No decorrer desses 30 anos, times como Flamengo Botafogo
e até Garrincha visitaram a cidade para fazer amistosos ou jogos festivos. Sulamérica
e Amazonas Futebol Clube reuniam milhares de torcedores no clássico “Sulamba
versos Cobra Coral”.
Tínhamos times competitivos, que onde
chegavam para jogar eram temidos. Grandes jogadores se destacavam no senário
esportivo amazônico. Em tempos de hoje, só já temos revelações em memorias e
narrações ditas por torcedores fanáticos do passado. Às vezes me pergunto, cadê
os adjetivos depois do nome de cada jogador? Os “fenômenos tupiniquins”, os
“torpedos”, os “foguetes”, onde estão? Todos sumiram.
Quando pergunto a um jovem de Parintins para
que time torce, a resposta é automática: “torço, para o Vasco, São Paulo, Grêmio,
Flamengo, Atlético Mineiro”. Há trinta anos atrás isso era diferente, a alegria
era torcer pelo Cobra Coral, São Cristóvão, Sulamba ou Jack Clube.
Entretanto a situação atual é degradante, vai
além da perda de torcedores e o esquecimento para com os clubes locais. Jogadores
não possuem comprometimento com suas equipes. Só querem aparecer na hora de
jogar, não são todos, mas os poucos que ainda possuem responsabilidades são
pagos ou possuem um comprometimento que adquiriram com os veteranos.
As drogas licitas e Ilícitas encurtam carreiras
de atletas. Jogadores com apenas 25 anos amanhecem nas mesas de bar após uma vitória
ou derrota, o resultado não importa, o destino é sempre uma rodada de álcool
para saciar o vício. A consequência é a queda de rendimento e qualidade. Não
coloco todos em um mesmo saco, porém são poucos os que se comprometem e, levam
a sério o futebol para iguala-lo ao profissional, mesmo não tendo condições para
isso.
Centelhas de recuperação surgem ao longo dos
anos. A Copa de futsal, organizada por uma empresa de rádio da cidade é um
exemplo. Acontece uma vez ao ano com as equipes de Parintins e de municípios
circunvizinhos. Mas os times deste campeonato também enfrentam o problema
crônico que é o jogador contemporâneo.
Os “atletas de futebol” não possuem formação
atlética ou não tem a menor noção de como são as regras atuais da modalidade,
nem acompanham as atualizações. Muitos acabam jogando partidas em troca de garrafas
de bebidas alcoólicas ou qualquer 500 reais por temporada.
Jogadores considerados de alto nível tem que
trabalhar em outros empregos para sustentar a família, porque não temos o profissionalismo
no futebol. Uma cidade com 114 mil pessoas e com uma renda de 231 milhões de
reais, anual, (fonte IBGE), não ampara atletas que poderiam estar vivendo do
esporte.
O apoio
não dado pelo poder executivo municipal também contribui para o futebol
anacrônico que possuímos. Dirigentes e presidentes acabam se humilhando em
busca de patrocínios, fazem churrasco, pizza, ou todo tipo de promoção para
colocar suas equipes apresentáveis em quadra ou em campo. Inscrições
exorbitantes e taxas extras de campeonatos acabam por tirar a oportunidade de clubes
mais humildes de participar de competições, assim fazendo-os cair no buraco da
ociosidade.
A liga de futsal e de futebol de campo do
município, não recebem auxílios para organizações de campeonatos, muito menos
para premiações. Mesmo quando prometidas pelo poder público, ainda ficam
esperando meses para receber e repassar para os ganhadores de respectivos
campeonato.
A falta de qualificação dos próprios técnicos
e árbitros das competições é um agravo. Parintins está na realidade de não
possuir nenhum time em primeira divisão do estadual. Será que um curso bancado
por nossos impostos direcionados pelos nossos governantes, não melhoraria a
qualidade e o material humano do futebol parintinense? Tenho certeza que sim.
Uma simples política pública alavancaria a
situação atual. Jogadores não se viciariam em drogas ou não acabariam suas
carreiras no alcoolismo se obtivéssemos uma base solidada e um acompanhamento
desde dos primeiros anos de atleta.
Em pleno 2018, vivemos um paradoxo. Estamos
em uma máquina do tempo onde o futebol de Parintins retrocedeu ao presente.
Realidade muito diferente quando comparado a outros municípios do estado. Porém,
esperanças surgem, escolinhas de futsal e futebol estão mudando essa realidade ao
longo do tempo. Mesmo que o resultado demore, algo irá mudar.
OBS:
Todas essas afirmações foram um trabalho de investigação baseadas em pesquisas e
entrevistas em loco em clubes e campeonatos. Observações que não é muito
difícil de se detectar. Nada foi
inventado ou manipulado.
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